SINOPSE

40 são os anos da revolução de Abril. Mas é também a idade da ditadura - quase 41 anos sem interrupção, a que se designou Estado Novo. Num país onde as palavras “crise” e “iphone” são as mais ouvidas, [40] é uma reflexão sobre o estado das coisas. Um aniversário e o balanço de 40 anos. O que há a celebrar quando tudo se mistura e se torna difuso? Onde o que parece nunca é, e o que é deixa de o ser. 

Andamos Tortos por Linhas Tortas

Criar um micro-espectáculo para o Teatro Rápido era algo que não tinha em mente - até porque o Teatro não se compadece de rapidez, e 15 minutos é o tempo que o espectador demora a entrar num espectáculo, a acomodar-se, a absorver os sinais cénicos que o irão permitir desvendar o espectáculo. Consiste por isso um enorme desafio criar algo que tenha leitura num curto espaço de tempo, que tenha interesse e que seja comunicante. O texto de Lourenço Henriques, traçava o paralelo entre o aniversário de uma mulher e o tempo após a revolução de Abril - 40 anos - com o objectivo de comparar expectativas e desejos que após esse tempo se viam frustrados. No entanto, o trabalho dramatúrgico levou este espectáculo para um espaço mais controverso e provocatório. Partindo do facto que o período de Estado Novo teve duração semelhante ao aniversário, que agora se comemora, do 25 de Abril, encontrámos cénicamente um diálogo entre a Ditadura e o Homem contemporâneo. É através do discurso da Ditadura que nos é dada uma descrição irónica dos nossos dias, onde ela própria se vai revendo e encontrando semelhanças. Como numa peça de Beckett, onde o absurdo reside no infinito do tempo onde acções e ciclos se repetem, ininterruptamente, onde nada parece avançar, eternamente regressamos ao ponto de partida. Ditadura e Democracia baralham-se com o tempo, revertem-se, há sempre vítimas e gente feliz. Não pretendo diminuir a importância da Revolução de Abril e muito menos elogiar a Ditadura, mas o teatro é um espaço de reflexão e provocação, e faz sentido questionar, pôr em causa o que somos, e estar atento ao caminho que quem nos governa indica como única saída. O tema do mês de Abril no Teatro Rápido é "direito por linhas tortas". A nossa proposta vai ao encontro desse tema quando questionamos: onde é que estamos 40 anos após o 25 de Abril? E talvez a nossa resposta esteja no título deste texto. 

Rui Neto